terça-feira, 3 de janeiro de 2012

Jesus ou Caifás



Além de suas enfáticas afirmações a favor de um sentido intuicional ou esotérico, e do dever de o buscarmos, a Escritura indica claramente a fonte e a causa do insucesso em compreender esse sentido. Ao mesmo tempo, a Bíblia denuncia veementemente aqueles que negam esse sentido ou o ocultam; e considera em alta estima aqueles que o buscam e o compreendem.

            E é precisamente esse sentido intuicional ou esotérico – que é o objeto do conflito entre o sacerdote e o profeta – que é exposto ao longo de toda a Bíblia.

        Assim, enquanto que o sacerdote é continuamente acusado de ser o ministro dos sentidos e de ser aquele que degrada materializando as coisas espirituais, o profeta é constantemente exaltado como o ministro da intuição e o redentor da degeneração do materialismo. E isso tanto de acordo com o sentido exotérico como com o sentido esotérico da Bíblia.

A perda da percepção espiritual pela Igreja compeliu os profetas a falar abertamente. Em razão disso, vemos os profetas denunciando abertamente o Sacerdotalismo como representado pelos padres, por profanarem os altares puros de Deus ao derramarem sobre eles o sangue dos animais que foram usados para simbolizar os dons e graças espirituais que os homens deveriam cultivar e dedicar ao serviço de Deus. Os sacerdotes materializaram esses símbolos, ao invés de cultivarem esses dons e graças.

            E assim, os profetas declararam que não havia ordem ou aprovação divina para sacrifícios de sangue; mas que, pelo contrário, os sacrifícios de Deus são espirituais e consistem na retidão e na pureza de coração.

            É o Sacerdotalismo que, ao longo de toda a Bíblia, é a “Jerusalém que assassina os profetas”. As duas ordens – a dos sacerdotes e a dos profetas – são simbolizadas por Caim e Abel, e encontram seus representantes culminantes em Caifás e Cristo. Pois Caim é sempre o sacerdote que, cultivando os “frutos do chão” da natureza dos sentidos, mata o Abel que, como profeta, cultiva o “cordeiro” de um espírito puro, e dessa maneira uma intuição pura – o cordeiro que no fim supera todo o mal.

            E não é outro senão o Sacerdotalismo que, servindo como agente da “serpente”, causa a ruína da Igreja Edênica, ao degenerar a faculdade da percepção espiritual representada pela “mulher”.

            E até bem ao final da Bíblia, as mesmas influências são apresentadas como constantemente tentando destruir essa faculdade no homem; faculdade que, possuída em elevada medida, faz o profeta, e possuída em plenitude faz o Cristo, fazendo com que Ele seja chamado o “filho da mulher”, e ela chamada de uma “virgem”.

            E do mesmo modo que o homem encontra sua redenção na restauração e exaltação da “mulher”, o Sacerdotalismo encontrará sua destruição. E “aquela antiga serpente”, sua tentadora através do Sacerdotalismo no Éden, será “aprisionada por mil anos”.
             Restaurado pela chave assim recuperada, as estórias de Dilúvio, das Cidades da Planície, do Êxodo, de Ester, do Cativeiro e do Retorno, e muitas outras, revelam o mesmo significado. Em seu sentido esotérico elas são parábolas que demonstram o declínio da Igreja em direção à escuridão espiritual e o aprisionamento à materialidade através da corrupção, pelo Sacerdotalismo, de sua faculdade de percepção espiritual, e sua restauração através da recuperação dessa faculdade.

            A densa escuridão que cobriu a Terra na crucificação de Cristo pelo Sacerdotalismo representa o eclipse total dessa mesma faculdade; e Seu segundo advento significa a sua plena restauração.

            O céu nas nuvens do qual Ele virá é o céu do “reino interno” da restaurada compreensão do homem.

            Pois então, para a Igreja e para o mundo, como antes ocorreu dentro Dele mesmo, o “véu do templo será rasgado ao meio de alto a baixo”. E o Evangelho do qual Ele foi a manifestação será sucedido pelo Evangelho da Interpretação. Tendo sido cumprida e realizada a hora do “homem”, a hora da “mulher” terá chegado. Pois ela é a intérprete.

Essa é apenas uma breve seleção e resumo dos métodos pelos quais a Bíblia ilustra e intensifica o esforço perpétuo da Igreja Celestial em estabelecer a gnosis de Cristo no mundo, e a tentativa determinada, até o momento bem sucedida, do Sacerdotalismo de impedi-la e de abafá-la.

Isso, no entanto, não quer dizer que a coletânea de escritos que compõem a Bíblia seja toda ela Escritura Sagrada e da Palavra de Deus. Pois ela inclui livros que são sacerdotais, históricos e seculares, bem como livros que são proféticos, místicos e espirituais.

            Além disso, ela foi submetida a muita alteração, interpolação e mutilação, ao ponto de torná-la mais como uma porção de argila, na qual estão incrustados grãos, pepitas e veios de ouro, do que uma porção que é toda de ouro.

            Sendo, portanto, veículo material e impurezas, bem como metal puro da verdade divina, a Bíblia requer um “espírito de conhecimento e compreensão” para determinar quais porções dela realmente são verdade divina, bem como para compreender essa própria verdade.

            É em vista do dano causado pela adoração sem discernimento do livro e da letra da Escritura que a Nova Interpretação inclui a Bíblia entre os ídolos que devem ser lançados ao fogo a fim de que seja submetida à purificação indispensável para a revelação da verdade nela contida. E quando se diz, como nestas páginas, que “a Bíblia diz isso e aquilo”, se faz referência àquilo que na Bíblia, sendo divino, a constitui como uma Bíblia, ou seja, como um livro da alma.

Adaptado de:

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