sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

Quem criou o diabo



São muitos os nomes, as características e os poderes atribuídos ao Diabo - o príncipe das trevas - na cultura ocidental. Na verdade, o Diabo é o resultado da fusão de muitas crenças de diversas entidades e de diferentes culturas. Aparece na Bíblia Sagrada como sendo a serpente que seduziu Eva e Adão no paraíso, levando-os a comerem do fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal; ou quando da agonia de Cristo no deserto, o Diabo aparece tentando-o, oferecendo-lhe o mundo como recompensa para que Jesus abandone o plano de Deus para sua vida. Da mitologia grega, ele é herdeiro direto de Hades, o Deus do mundo dos mortos, local para onde as almas dos condenados eram enviadas, após pagarem ao barquero Caronte; para entrar na morada de Hades era preciso passar por Cérbero, o cão de três cabeças que guardava os portais do Tártaro.



Já o tridente ele herdou de Netuno, o Deus dos mares; os pés de bode eram de Pã, uma entidade benéfica, que vivia nos bosques e florestas. A aparência hedionda de Lúcifer só veio se concretizar a partir do fim do Império Romano (476 d. c.), quando a Igreja Católica passou a ocupar o vazio de poder deixado pela queda de Roma; a Europa se via mergulhada nas invasões bárbaras, sem contar com um poder sólido para garantir a ordem social. Era preciso demonizar as crenças pagãs, para que a religião cristã se prestasse como nova ferramenta de poder e de controle sobre os diversos povos que viviam dentro das fronteiras do decaído império Romano; fornecendo uma base de cultura comum para um mundo extremamente diverso e conflitivo. Para manter seu domínio sobre estas populações, durante a "Idade das Trevas" a igreja resolveu personificar "a encarnação do mal"; passou então a representar em Lúcifer toda a maldade, os vícios, os pecados e os sofrimentos do mundo; e também a figura de um "Demônio malévolo", comandante de uma legião de outras criaturas das trevas em luta eterna contra Deus, os santos e os anjos, para "corromper a humanidade", carregando-a para a perdição do pecado, afastando-a da "verdadeira Igreja de Cristo".



Isso tudo veio se prestar perfeitamente para dar consistência para o projeto de poder de uma igreja que ambicionava reerguer o Antigo Império Romano e unificar a fé e as crenças por todo o mundo. Pode-se mesmo dizer que o Demônio seria uma espécie de oposto de Cristo; o seu inverso; a encarnação da maldade e da vilania.

Dante Alighieri escreve "A Divina Comédia", livro em que a alma do poeta percorre os Céus e os infernos. A crença em Deus era alimentada pelo temor nas forças das trevas; o Diabo passou a ser visto em Hereges (dissidentes de fé diversa), bruxas, cientistas, judeus (por receberem a culpa da prisão e condenação de Cristo, e por negarem que este seria o "Messias" anunciado no velho testamento, os judeus sempre foram perseguidos e associados ao Diabo) e, mais tarde, ciganos.



Acreditava-se que o mundo estaria próximo do fim, e que o Anticristo estaria reinando na Terra; bruxas, lobisomens, vampiros, assombrações, hereges, cientistas (como Copérnico e Giordano Bruno) eram todos considerados adoradores do Diabo e agentes da danação a serviço da corrupção da humanidade.



Como acreditava-se na época que o Papa "falava por Deus", os protestantes também foram associados ao Diabo, por desobedecerem ao pontífice. A pretexto de defender Jesus Cristo e a sua "Verdadeira Igreja", muitos governos instituíram o Tribunal da Santa Inquisição, quando as bruxas e os hereges eram presos, torturados e julgados por crimes contra a cristandade.


Acreditava-se que com isso o "reinado do Anticristo" estaria sendo combatido (o próprio Napoleão Bonaparte foi tomado como sendo a "encarnação do Anti-Cristo" na terra, para a maioria de seus inimigos). Às luzes do Renascimento e do Iluminismo, com o advento da ciência clássica e da economia de mercado só vieram radicalizar os extremismos. Cresce a superstição de que, para cada criatura humana viva na terra, o Diabo havia designado um "Demônio tentador" para garantir que aquela alma se perdesse nos descaminhos da maldade; já Deus, em sua infinita bondade, teria designado um "anjo da Guarda" responsável para tentar levar a alma deste vivente para o "caminho do Bem". Acreditava-se que desde o início da criação dos tempos o mundo testemunhava esta luta eterna entre Deus e o Diabo pelas almas dos humanos. Esta luta eterna entre Deus e o Diabo surge a partir da lenda da rebelião de anjos contra a autoridade de Deus-pai, quando Lúcifer, o anjo decaído, lidera uma legião de anjos, arcanjos e querubins numa tentativa frustrada de literalmente "tomar o poder no Paraíso". Derrotado por Deus e pelos anjos e arcanjos que lhe permaneceram fiéis, Lúcifer teria sido banido por Deus para todo o sempre para morar no submundo dos infernos, local sombrio e terrível. Teria sido neste momento que Deus teria punido seu "Anjo de Luz" (este é o significado da palavra Lúcifer) deformando seu corpo e seu rosto, tornando-o uma criatura abominável e repugnante (antes o Arcanjo lúcifer, segundo esta crença, era um rapaz belíssimo). Diz a lenda que quando Deus estava lançando Lúcifer aos infernos este teria dito: "É melhor reinar no inferno do que servir no paraíso!".



Com a descoberta da América, duas visões se cristalizaram: a primeira dizia que o Novo Mundo era o reino do Anti-Cristo na terra; o Diabo estaria dominando os índios e habitando suas almas e corpos; a outra dizia que este continente era o "o Paraíso perdido", local onde Deus teria colocado o primeiro homem e a primeira mulher para viverem em felicidade eterna, antes do pecado original. Foi aí que o Diabo ganhou contornos nativos, sendo Maíra, Anhangüera, ou qualquer entidade indígena. Com a escravidão dos negros, logo a Igreja (a serviço da coroa) e os senhores brancos se apressaram em associar a figura do Diabo às divindades africanas. O Diabo ganhou uma aparência africanizada (tornando-se um homem negro enorme, numa referência preconceituosa à raça negra em geral), passou a ser chamado também de Exu, Tranca-Rua e outras definições afins.



Wikipédia

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